Bom, pra começar, vamos esclarecer que esse texto não é sobre a Páscoa. Não tem nada a ver com a Páscoa. Não vou falar de ovos de Páscoa. Só aproveitei o gancho pra chamar a atenção pra história mesmo. Desculpem. Mas já que estamos aqui, por que não contá-la, não é mesmo?
Enfim. Tudo começou com um trabalho de faculdade. 3º ano, design de embalagens, segue o briefing:
Uma embalagem para 1 ovo (sim, 1 so). Para conter, transportar e proteger um exemplar de ovo de galinha.
Público masculino, classe AB, 18 a 25 anos, maioria solteiros, valorizam a moda, ganhar dinheiro e são extremamente vaidosos; abrem mão de inteligência por mais beleza, curtem uma baladeinha e não vivem sem TV ou Internet.
O que eu tinha que fazer? Escolher uma marca bacanuda e desenvolver a embalagem. Simples assim. Ou nem tanto, se você considerar que além de ficar bonita ela teria que sobreviver a uma queda de mais ou menos 1,5m, o ovo lá dentro tinha que ficar intacto e a disciplina ja tinha uma certa fama...
Só com isso eu já tinha motivos suficientes pra ficar nervosa sozinha, mas nessa época eu ainda morava num pensionato de freirinhas dominicanas, e convivendo com mais 30 meninas, ainda tinha que lidar com toda a movimentação em torno do meu trabalho (porque, vamos concordar, um trabalho de faculdade sobre uma caixa de ovo chama a atenção) e com todos os “E o ovo?”, “Já foi?”, “Não foi?”, “Tá bonito?”, “Posso ver?”, “Quebrou?”, “Posso quebrar?”.
E eu respondia: “Tá indo.”, “Ainda não.”, “Não.”, “É...”, “Pode.”, “Não.”, “Não!!!”.
Ao mesmo tempo, eu ia driblando as investidas de Murphy e os processos seletivos pra estágio que também me ocupavam bastante a cabeça, entao resolvi tirar um feriado e pedir ajuda externa. Foram 3 dias de folga nos quais eu agradeci muitissimo por ser filha de dois engenheiros! Gracas a eles chegamos a uma estrutura simples, funcional, e uns 2 ou 3 cálculos depois eu tinha uma solução matematicamente infalível e esteticamente viável na qual eu desconfio que não chegaria sozinha. Brilhante!
Passei as 2 semanas seguintes acampando na faculdade, fazendo intensivo de Photoshop e com um baita embrulho no estômago a qualquer menção de ovo e suas derivações, tipo frito, pochê, omelete... Foi ai que batizei o projeto de Marieta, pra ver se pegava um amor à coisa antes de querer arremessá-lo pela janela ou estourá-lo com as minhas próprias mãos, o que por sinal eu já havia feito com meu ovo teste.
Na véspera da apresentação, sonhei que eu procurava minha toalha rosa (!) e alguém sentou na Marieta que tava em cima da cama, e arrancou um triangulozinho (! de novo) do ovo que na verdade tava cozido, mas que começou a vazar clara por baixo da embalagem descontroladamente! Acordei num salto e resolvi ir mais cedo pra aula sem parar pra falar com ninguem e nem tirar a toalha do varal. Só pra garantir...
Tentei pegar um ônibus com o menor número de gente possível, mas Murphy sempre pensa em tudo, e terminei pegarando um atrasado, sequência de outro que ninguém pegou porque passou adiantado. Logo, tava lotado até as tampas. Por sorte achei uma alma caridosa que se ofereceu pra carregar o meu ovo, mesmo com todas as recomendações e depois de convencê-la de que eu realmente tava andando por aí com um ovo de galinha. Devia ter escrito FRÁGIL na embalagem... Raios!
Por fim, já em sala, depois de uma votação dos melhores ovos, só pra aumentar a tensão, os arremessos. Assisti com os olhos meio abertos e posso contar feliz da vida que ele não quebrou! Yep! Eu já podia encarar todos os outros 8 trabalhos do semestre.
A quem interessar saber, não, não estou guardando o ovo até hoje. Fiz isso durante os 3 primeiros anos, mas tive o bom senso de ficar só com a embalagem no final das contas.
E pra quem ainda duvida, olha aí a foto da Marieta. Ainda com as marquinhas da queda, mas a coisa mais linda!