Quando eu era pequena, antes de ser
publicitária ou querer pintar ou cabelo de ruivo (o que continuo querendo mas
ainda não fiz sei lá por que), eu queria ter um cabelo bem liso, comprido,
olhos grandes, castanhos, que mudavam de tom no sol, e achava bonito gente
assim, toda miudinha, simplesmente por estar meio enjoada de ser a mais alta da
sala e a última da fila sempre.
Depois de alguns anos
mentalizando essas coisas, eu ganhei uma boneca. Pequenininha, cabelos lisos e
os olhos grandes de uma cor que eu não sabia definir exatamente, mas belos
justamente por isso! E cílios grandes que piscavam devagar e borboletinhas
coloridas no cabelo...
E como toda boneca favorita, ela
cantava comigo e inventava passos novos pela sala e aprovava todas as invenções
culinárias que se parecessem com brigadeiro, granulado e bolo de chocolate!
Com o tempo, descobri também que
a minha boneca tinha o meu riso preferido em todo o mundo! Mas o mais incrível
era que, conforme eu ia crescendo, desconfio que ela ia também, e chego a ter a
impressão de que às vezes ela bem poderia me colocar no colo, porque a Ex de
Murphy ainda tem medo de relâmpagos e pensa duas vezes antes de atravessar um corredor
no escuro.
Aí eu fico pensando porque foi
que eu demorei tanto tempo pra ganhar essa boneca de presente. E fico achando
ao mesmo tempo que não poderia ser de outra forma, mas que o pensamento é
inevitável, já que ela tem tanta coisa das minhas próprias projeções, mesmo se
a minha boneca ainda não descobriu Fernando Pessoa, não aderiu ao rock ´n roll
e não discute horas sobre a psiquê controversa do Batman, as filosofias por
trás d’A Origem e da Matrix e nem acha que o Keanu Reeves é essa coisa toda
também...
Mas ela é uma boneca, não um
clone, não é?!
E a verdade mesmo é que isso nem
é um post. É um cartão de aniversário pra tentar fazer uma coisa muitíssimo
difícil que é explicar uma coisa indizível e tão fora do normal quanto o fato de
“amo mais que cebola” fazer todo o sentido do mundo. Quem tá assoprando as
velinhas sabe exatamente do que eu tô falando, e esse foi o jeito mais coruja
que eu arrumei de dizer isso!