Passagens ida e volta pra ver a
família: R$ 100,00.
Comprinhas pra geladeira começar
a semana mais feliz: R$ 20,00.
Sabão em pó e amaciante de
roupas: R$ 10,00.
Aquele seu amigo lindinho que não
te vê há um tempão aparecer na sua casa justo no dia em que, depois de um
milhão de anos, você resolve que vai dar um jeito no armário e lavar toda a
pilha de roupa antes que ela procure uma lavadora sozinha: não tem preço.
E é bem aqui que a história
começa.
Saí do trabalho e resolvi passar
no mercado só pra encontrar um monte de gente que também resolveu começar a
semana reabastecendo a geladeira. E enquanto enfrentava a fila gigante, fiquei
lá pensando nas coisas da vida, nas leis de Murphy e em como é engraçado o fato
de sempre encontrar gente conhecida no dia em que você tá um trapo.
Cheguei com as comprinhas, coloquei
a maravilhosa trilha sonora da faxina, shortinho de praia, blusinha no estilo “tô
lavando a casa”, chinelo, cabelão pra cima e quando já tô de frente pro tanque,
toca o telefone. A diva aqui tira o par de luvas de borracha, tira a espuma que
voou quase que de propósito pra acertar em cheio a perna esquerda e corre pra
atender. Que bacana! Sabem o amigo lindinho do começo do texto? Pois é.
Tudo bem? ... O quê? Vir aqui? Tipo agora? ... Ah, pode... Você não se
importa de me encontrar brincando de Amélia, né? ... Certeza?! ... Não, sem
problemas, pode vir sim. Beijo, tchau.
Pronto. Olha aí o fato
engraçadíssimo de encontrar as pessoas quando você está um trapo se tornando
realidade.
Aí eu penso: um milênio pra vir
me visitar e resolve dar o ar da graça (e que graça!) justo hoje, meu querido?
Aí eu penso parte 2: será que não
podia ser aquela hora em que a mocinha sai linda e deslumbrante com o vento nos
cabelos e a rua para quando os protagonistas (por acaso) se encontram? Bem
filminho adolescente de sessão da tarde, mas com certeza bem melhor do que a
cena que tava rolando...
Que segunda-feia! (a gente pode
escolher dia pra ficar feia?) E que jeito bacana de começar a semana, né
Murphy? Não dava tempo de tomar um banho nem de dar um jeitinho no cabelo, e as
olheiras... Bom, essas os óculos ajudam a esconder um pouquinho pelo menos...
E aqui vem a tentativa desesperada
de deixar a situação um pouco melhor: poxa vida, é amigo, não devia fazer tanta
diferença.
Mas faz, raios! São a minha
imagem pública e minha autoestima indo parar embaixo do tanque - que por um
acaso ainda tava cheio de roupa pra lavar.
O interfone toca. Pânico na
torre. O amigo tá chegando.
Nesse momento eu separei o
sorriso mais simpático que consegui; ou que não consegui, mas tentei do mesmo
jeito, dei uma desentortada no cabelo, tirei aquele pano de chão horroroso espalhado
no meio da cozinha e esperei ele entrar.
Lembrei da filosofia de uma
grande amiga que me disse que amores cotidianos começam na lavanderia e na sequência
acreditei profundamente na tese de que amigos de verdade dão risada dessas
situações depois...
Bom, o fim do episódio é que ele
não morreu de susto e continuamos bons amigos até hoje. Porque, afinal de
contas, ninguém usa purpurina todo dia, certo?!
E só pra garantir, fiz ele
prometer por escrito que não ia contar pra ninguém que me viu com aquela cara. Assim,
só pra garantir... ;)